23 de dezembro de 2009

Laura Pausini escreve uma carta para Sorrisi e Canzoni TV, uma revista Italiana.


*Nos vemos em dois anos*

A Pausini escreve à Sorrisi uma carta na qual explica por que se retira dos palcos.




Estaria exausta? Estaria grávida? Depois que a cantora anunciou a sua longa "pausa de reflexão"se desencadearam as hipóteses mais diversas. Sorrisi pergunta então a Laura qual era o verdadeiro motivo da decisão. E ela quis explicar em exclusiva para os nossos leitores. Com essa carta.

Cara Sorrisi, te escrevo... assim me distraio um pouco. Não é por acaso que cito o meu ilustre colega Lucio Dalla, porque quero falar, como na música dele, do ano que vai vir. Um ano verdadeiramente particular para mim, porque decidi parar. É a primeira vez que o faço em 16 anos e tenho a sensação de que será um momento importante, como foi quando com 18 anos venci Sanremo na categoria Nuove Proposte. Esse ano seguirei o Festival de casa, uma vez que conseguirei definir e compreender qual é essa casa e onde fica. Tecnicamente em Milão, mas passo muito mais tempo em Roma. E também queria tanto voltar à Romagna... Tendo começado a trabalhar e viajar muito jovem, não tive tempo de aprender muita coisa, como por exemplo tomar conta de uma casa "de verdade", entender o que significa ter um lugar para voltar e sentir-se protegido, e ter as roupas regularmente postas em um armário e não trancadas em malas por um ano inteiro. Certamente existirão algumas mudanças.
Adiei o máximo possível, como se faz cada vez que se tem à frente uma decisão a tomar e se sabe perfeitamente que cada uma das possibilidades trará consigo um pouco de alegria e um pouco de dor. Sei que é o momento, sei que é justo. Escolho parar porque preciso me pegar pela mão de novo, a minha vida e tudo que até agora (por escolha) deixei de lado. 
O meu desejo para este Natal não é um filho, como muitos escreveram, mas poder ter um tempo livre. Sonho entrar numa grande livraria e passar todo o tempo que desejo... Não lembro nunca de ter passado um dia inteiro sem alguém do lado me lembrando que tinha só dez minutos para fazer tudo. Acho que esperarei a primavera com calma e vou passear de bicicleta, pelo campo rosa de flores de pêssego que é um espetáculo na Romagna. E na volta acredito que escreverei muito, muitíssimo. Paro também para aprender. E para fazê-lo preciso conhecer. A música vai ser a minha companheira de sempre, como nesses anos, mesmo que não a leve para o palco, rádio ou televisão. Escutarei muitíssima enquanto desento e enquanto estudo (talvez arquitetura, talvez *grafica publicitária* ou talvez um curso de ourives). Quero aprender a cozinhar para os meus amigos, estar nos aniversários deles, viver com eles o cotidiano que até hoje não pude conhecer. Escolho parar para estar com a minha família: quero estar para eles, como eles sempre estiveram para mim; quero conseguir demonstrar que todo o bem que digo querer-lhes tanto eu sinto de verdade e não só com palavras. Devo demonstrar a mim mesma que posso estar ali ao lado deles quando riem, choram, bebem um chá ou preparam o jantar.
Repito: não paro para fazer um filho, mas quero estar segura de ter todos os instrumentos para me tornar uma boa mãe, se isso for o meu destino, ou por eu ser uma mulher feita da mesma massa e com todas as características das mulheres que hoje eu olho e estimo.
Sem isso não vou me chatear, como alguns amigos pensam. Já tenho muitas ideias em mente ligadas à música e analisarei algumas das ofertas que recebi da televisão, um mundo que me fascina muito...
Devo entender de verdade que coisa quero e posso fazer e, nesse sentido, ter todo o tempo do mundo para pensar. Nunca conseguiria parar para não fazer nada: a vida tem que ser enfrentada com entusiasmo e coragem mesmo quando as coisas não vão como queremos. Esse ano perdi o meu melhor amigo e sofri muito mas preciso acreditar no meu futuro com alegria, preciso de novas energias e procurá-las nas coisas "pequenas", simples. Tem um cumprimento e um voto especial que quero fazer àquele grupo de amigos com os quais e para os quais cresci: os meus fãs. Vocês são as pessoas com as quais eu passei a maior parte do meu tempo nos últimos anos, foram e são aquela "certeza" de onde partir de novo quando alguma coisa deu errado e são o abraço quente que me acolheu cada vez que saí para cima de um palco e os encontrei na minha frente. Não acreditem que eu não tenho medo: de sentir a falta do palco, do microfone, da minha voz, das vozes de vocês, dos seus olhos nos meus, da energia que só vocês sabem me dar. Tudo aquilo que vocês me deram e que dividimos esta aqui comigo e ninguém poderá NUNCA me privar.
Tudo aquilo que nos somos continua aqui, comigo. Na lembrança 
indelével das suas vozes, dos seus olhos cantando comigo, noite após noite, cidade após cidade, ano após ano. Temos 16 anos de lembranças explêndidas para nos fazer companhia. Espero que vocês tenham a paciência de esperar, conscientes de que a escolha que faço é a única que hoje acredito ser possível para mim. Quem se ama de verdade sabe sempre onde se encontrar. Eu estou feliz e quero que vocês também estejam.
Cara Sorrisi, desejo a você e aos seus leitores um Feliz Natal e aproveito o espaço que vocês estão me dando para pedir às pessoas que me enviam presentes para não fazê-lo: de verdade não preciso mais de nada e de verdade gostaria de que o dinheiro que vocês sempre gastam com os presentes devolvessem para uma associação beneficente de confiança.Existem tantas crianças que precisam da nossa ajuda e o meu pensamento especial vai para elas, para que esse "anno che verrà" traga conforto e alegria às famílias que esperam um milagre. Que 2010 seja um ano especial para todos: cada um de nós tem os seus desejos e eu espero que os meus, como os de vocês, se realizem sempre. Nos vemos em 2012. Saudações.




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